A VENTURA DE ME CHAMAR JOSÉ

- Ó minha avó, há tantos "Josés" na família! Meu avô era José Joaquim, meu padrinho era José Joaquim, meu pai Josualdo José e eu...
- E então? O que é que queres dizer com isso?
- Ora! Queria que me tivessem "posto" Jorge, por exemplo, e não também José Joaquim!
- Pois olha, não há nome mais bonito nem mais valioso do que José, ora ouve.
Era uma vez um homem que vivia numa aldeia e que só era conhecido por José, não só por ser este o seu nome, mas também por que toda a gente lhe conhecia o hábito: quando alguma coisa lhe corria mal ou alguém o contrariava, em vez de rogar pragas ou dizer "brutidades", apelava: - Ó valha-me São José! Ou então, quando alguma coisa boa lhe acontecia, erguia as mãos para o céu e murmurava: Bem-haja, meu abendiçoado padrinho!
Além de respeitador e amigo de ajudar o próximo, era muito trabalhador, pois enquanto outros iam para as tabernas, ele trabalhava o dia inteiro, incluindo muitos domingos e dias santos de guarda, para que nada faltasse à mulher e aos filhos.
Quando morreu, apresentou-se às portas do Céu, por julgar que tinha lá um lugar. Mas veio São Pedro ao seu encontro e disse-lhe, torcendo o nariz:
- Não podes cá entrar! Tu sabes bem que guardar domingos e festas de guarda é o 3º dos dez Mandamentos de Deus. E já te esqueceste que na maioria dos domingos e dias santos de guarda não ias à missa, nem te confessavas...
- É verdade, confesso! Faltei muitas vezes a esse mandamento, porque vim duma família muito pobre, o que me obrigou a passar a vida inteira a trabalhar, para que nada faltasse aos meus. Mas não me pesam na consciência outros pecados. E para minha testemunha peço-lhe, por amor de Deus, que chame à nossa presença o sempre por mim louvado S. José.
- Pediste-me por amor de Deus, não posso recusar-te este pedido. Espera um pouco que eu vou chamá-lo.
Quando São José chegou junto dele, ajoelhou e pediu:
- Dei-te a sua bênção, meu sempre adorado padrinho.
São José ajudou-o a levantar-se e ele contou-lhe a conversa que tivera com o santo portador das chaves do Céu.
No fim, ouviu a conversa entre os dois santos:
- Ó Pedro, deixa lá entrar o simples e bondoso homem!
- Não posso, São José...Ordens, são ordens!
- Mas eu também tenho aqui algum poder!
- Pois sim, mas não pode obrigar-me a deixar entrar aquele pecador. Ele que vá para o Purgatório.
- A maneira canseirosa e bem comportada como levou a vida, dão-lhe o direito de entrar no Céu. Por isso mais uma vez te digo: Deixa entrar o bom do homem!
- Não insista São José. Não me pode obrigar...
São José, interrompendo-o, disse:
- Não posso! Então vejamos: Se ele não entrar, saio eu, o resto da Sagrada Família, com a rainha do Céu saem santos, anjos, arcanjos e os apóstolos ... E assim o Céu ficará vazio!
- Convencido, São Pedro disse:
- Está bem, o homem que entre.
E minha avó rematou:
- Vês, meu filho, a ventura que podes ter por te chamares José. Mas é preciso que sejas sempre bem comportado!